
Computer Entertainer, revista dos anos 80, passa a ser totalmente digital e gratuita
A Video Game History Foundation lançou oficialmente o arquivo completo da Computer Entertainer, uma das primeiras revistas de videojogos nos EUA, e está agora disponível para qualquer pessoa ler, pesquisar e descarregar. A revista foi publicada de 1982 a 1990, sobrevivendo ao crash da indústria de 1983-84 e oferecendo análises americanas raras e informações sobre o lançamento de jogos icónicos como The Legend of Zelda, Final Fantasy e Super Mario Bros. Depois de assegurar os direitos de publicação e de digitalizar as cópias de melhor qualidade, a Fundação adicionou toda a coleção à sua biblioteca digital, onde se junta a outros meios de comunicação preservados relacionados com jogos.
A Computer Entertainer pode não soar familiar para a maioria dos jogadores modernos, mas desempenhou um papel fundamental no jornalismo dos primeiros jogos. Começou como The Video Game Update, um mailer para um retalhista americano chamado Video Take-Out, e evoluiu lentamente para uma revista completa. O que é que a fez destacar-se? Para começar, era dirigida por Marylou Badeaux e Celeste Dolan, o que faz dela a primeira revista de consolas conhecida dirigida por mulheres. E enquanto a maior parte das revistas se desmoronou durante a crise, esta continuou a ser impressa, dando-nos algumas das únicas análises e dados baseados nos EUA de uma altura em que a cobertura de jogos quase desapareceu.
A Fundação explica claramente a importância da revista:
"A maioria das revistas de jogos de consola nos EUA faliu durante o crash da indústria em 1983-84, exceto esta. Como resultado, a Computer Entertainer é uma das únicas fontes de análises americanas de jogos clássicos como The Legend of Zelda, Final Fantasy e Super Mario Bros. E porque era gerida por um retalhista de jogos, esta revista é uma das únicas fontes fiáveis de datas de lançamento de jogos americanos durante este período".
Trata-se de uma enorme lacuna na cobertura, agora preenchida. A jornada para arquivar a Computer Entertainer exigiu mais do que apenas boas intenções. Primeiro, a Fundação recebeu um conjunto completo de edições encadernadas de Marylou Badeaux, mas as digitalizações não ficaram boas. Depois, após a morte da co-editora Celeste Dolan, as suas próprias cópias foram doadas e a Fundação tomou a decisão difícil de separar um conjunto completo para digitalização de alta qualidade. As edições em falta foram obtidas do historiador Leonard Herman para completar a tiragem, e a equipa também garantiu os direitos de autor para poder lançar tudo gratuitamente.
A revista completa está agora disponível no arquivo digital da Video Game History Foundation, que foi lançado no início de 2025. Pode ser pesquisada, descarregada e lançada sob uma licença Creative Commons Attribution, pelo que qualquer pessoa pode reutilizar ou partilhar o material, desde que seja dado o devido crédito. O arquivo já inclui outros suportes, como livros de arte e material promocional, mas o Computer Entertainer destaca-se como uma verdadeira peça da história das primeiras consolas.
A Fundação está ativa desde 2017 e centra-se na preservação, celebração e ensino da história dos videojogos. Tem trabalhado na preservação física e legal, incluindo a promoção de excepções aos direitos de autor que permitiriam às bibliotecas e instituições partilhar jogos digitais antigos à distância. Infelizmente, essas propostas foram rejeitadas no ano passado depois de a Entertainment Software Association (ESA) se ter recusado a apoiá-las.
Ainda assim, outros esforços de preservação estão a avançar. Em 2024, a GOG lançou o seu próprio Programa de Preservação com o objetivo de manter os jogos mais antigos compatíveis com os sistemas modernos. Este esforço juntou-se à rede europeia mais alargada de museus e arquivos que trabalham na preservação de jogos.
Entretanto, o debate público em torno da preservação está a aquecer. A campanha "Stop Killing Games" continua a ganhar força, denunciando as editoras que encerram os jogos permanentemente. Uma petição recente ligada a esta campanha obteve mais de um milhão de assinaturas na UE e poderá passar a uma audiência formal ou a um debate no Parlamento Europeu. Assim, embora o lado jurídico ainda enfrente resistência por parte das editoras, está a ganhar força nas comunidades e instituições para proteger a história dos jogos a longo prazo.
O lançamento do Computer Entertainer é um grande passo nessa direção. Preenche um capítulo perdido da história das consolas e dá aos investigadores, fãs e jornalistas uma visão rara de como era a cobertura dos jogos nos anos 80, especialmente numa altura em que a indústria estava na corda bamba. O facto de ter sido co-editada por mulheres, de ter funcionado de forma independente durante uma crise e de estar agora viva em digitalizações de alta qualidade para utilização gratuita torna-a mais do que uma simples nostalgia. É a prova de que a história dos jogos ainda tem muitas histórias para contar.
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