A página do New World na Steam se torna uma lápide, já que a Amazon abandona seu MMO.
A página de New World no Steam já não se parece com uma listagem de jogos. A opção de compra sumiu, os trailers e as capturas de tela desapareceram, e o que resta é uma única imagem estática anunciando o fim. Ela soa como um epitáfio: “New World: Aeternum não receberá mais atualizações de conteúdo. Os servidores permanecerão ativos até 2026, mas não haverá mais atualizações de conteúdo.”
Esse apagamento silencioso segue as “mudanças estratégicas” da Amazon — uma expressão que agora carrega o peso de 14.000 cortes de empregos e o desmantelamento de seu projeto de jogos mais visível. Para os jogadores que ainda investem no mundo de fantasia colonial e alianças frágeis de Aeternum, a mudança parece abrupta, até brutal. A página do Steam do jogo mais vendido de 2021, antes repleta de paisagens deslumbrantes e trailers que prometiam descobertas, agora parece um aviso para qualquer um que acreditasse que a Amazon pudesse criar um jogo duradouro.
O desaparecimento do jogo contradiz a declaração da Amazon feita um dia antes. A empresa havia afirmado que New World "permaneceria disponível para compra em todas as plataformas até novo aviso". O Steam, claro, é uma dessas plataformas. Nenhum aviso foi dado antes da remoção do jogo. Se foi um mal-entendido ou uma retirada discreta, a Amazon não esclareceu.
A diferença é gritante quando comparada através do Wayback Machine. No início deste mês, a página de New World oferecia 14 capturas de tela, três trailers e avaliações recentes "em sua maioria positivas", com opções para comprar as edições padrão e deluxe. Agora, é uma página em branco marcada por um final. Os jogadores ainda podem iniciar o jogo, mas é difícil ignorar a sensação de algo enterrado.

Para um título que outrora representava a esperança da Amazon de entrar no desenvolvimento de jogos de alto nível, o encerramento parece simbólico. Lançado em 2021, New World teve um início turbulento — assolado por bugs, sobrecarga de servidores e erros de design — mas conseguiu encontrar um público. Em 2023, o jogo se estabilizou, chegando a cultivar uma comunidade leal, ainda que modesta. Suas guerras em larga escala, a construção de mundo refinada e a narrativa envolvente criaram um nicho para o jogo. Muitos jogadores, principalmente aqueles que atuavam em PvP e como curandeiros, encaravam o jogo menos como um passatempo e mais como uma vocação.
Uma curandeira de longa data capturou esse sentimento em uma resenha de despedida que viralizou entre os fãs:
“Em New World, curar não era um papel. Era um compromisso. Um estilo de vida. Um fardo moral. Se você jogasse de curandeiro no PvP, ou você era um santo ou estava clinicamente doente. Às vezes, ambos.”
A postagem continua com afeto e exaustão, descrevendo o caos das batalhas onde "alguém se esquivou a um metro do Solo Sagrado" ou esquadrões inteiros acusaram curandeiros de negligência enquanto estavam "atrás de uma casa, em meio à fumaça, em chamas, a 50 metros de distância". É uma voz que reflete a estranha devoção que o Novo Mundo inspirou — frustração entrelaçada com orgulho.
“O New World não morreu por causa dos jogadores. Os jogadores eram leais, teimosos, iludidos, apaixonados e impossíveis de quebrar. O New World morreu porque a AGS continuou reagindo ao jogo como se fosse um problema, em vez de um milagre que eles criaram acidentalmente.”
Esse sentimento domina as recentes avaliações que inundam o Steam. Mesmo com a página praticamente em silêncio, ela se tornou um ponto de encontro para os desiludidos. Alguns estão com raiva, outros resignados. Um avaliador escreveu simplesmente: "Gostaria que este jogo ficasse por mais tempo, porque é muito bom". É o tipo de lamento simples que carrega um peso maior do que a raiva.
As críticas não se limitam ao apego emocional. Muitos jogadores veem a decisão da Amazon como sintoma de um padrão corporativo mais amplo: mudanças rápidas de rumo, foco em tecnologias emergentes e abandono de projetos inacabados. As recentes demissões foram seguidas por uma mudança declarada de foco, dos MMOs para a plataforma de jogos em nuvem Luna e títulos experimentais. É uma mudança que alguns interpretam como um recuo, e não como uma evolução — uma empresa decidindo que é mais seguro alugar servidores do que criar mundos.

Para aqueles que passaram anos nos campos de batalha e territórios do Novo Mundo, essa escolha parece pessoal. Como disse a avaliação do curandeiro:
“Nós não fomos embora. Nós fomos deixados para trás.”
A ironia é que New World finalmente havia alcançado uma certa estabilidade. Grandes atualizações, como a Temporada 10 e a Atualização Nighthaven, aprimoraram os sistemas de combate e reequilibraram a progressão. Embora o número de jogadores nunca tenha retornado aos níveis do lançamento, a base remanescente era engajada — o suficiente para sustentar um MMO discreto e autossuficiente. Muitos esperavam que o título continuasse, modestamente, enquanto a Amazon se dedicava a outros projetos. Em vez disso, o anúncio de seu encerramento veio sem aviso prévio, incluído em uma reestruturação corporativa e comunicados de RH.
Em sua versão final, a página do Steam não comunica nada dessa história. Ela se resume a uma única imagem, uma última declaração oficial que parece mais um aviso de encerramento do que uma homenagem. Sem links para fóruns, sem convite à reflexão. Apenas a confirmação de que os servidores permanecerão online até 2026 — uma espécie de sobrevida prolongada para quem ainda não se desconectou.
Alguns jogadores ainda se apegam à esperança de que servidores privados ou versões não oficiais possam manter o mundo vivo. Outros documentam as paisagens do jogo, gravam vídeos e arquivam obras de arte como se estivessem preservando uma ruína digital. De certa forma, o capítulo final de New World está sendo escrito não pelo estúdio, mas pela comunidade.
Para a Amazon, isso representa mais um passo para longe de uma ambição no ramo de jogos que antes parecia grandiosa. Crucible, seu jogo de tiro anterior, foi cancelado poucos meses após o lançamento. Lost Ark, desenvolvido pela Smilegate e apenas publicado pela Amazon, continua sendo seu único sucesso online em andamento. À medida que a empresa integra seus projetos internos à Luna e a empreendimentos de IA, o padrão se torna familiar: cada universo termina não com um fracasso catastrófico, mas com um lento silêncio administrativo.
A história de New World não é de desastre, mas de abandono gradual. O que começou como a incursão mais visível da Amazon na criação de jogos termina como uma vitrine vazia, uma imagem que diz aos jogadores que acabou. Para muitos que vagaram pelas florestas de Aeternum e lutaram em suas guerras, esse silêncio fala mais alto do que qualquer postagem de despedida jamais poderia.

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