Kojima vira a câmara para si próprio e revisita as suas regras criativas

A entrevista de Hideo Kojima à Wired oferece uma rara visão do realizador a examinar os seus próprios hábitos de trabalho, influências e padrões sem um entrevistador externo a moldar a discussão. Aparecendo na série Tech Support da Wired, Kojima responde a perguntas sobre si próprio, a sua filosofia de design e como avalia os seus jogos antes do lançamento. O episódio centra-se inteiramente no seu processo pessoal e não num projeto específico, focando a atenção na forma como pensa, estuda e testa as suas ideias.

O formato já contou com a participação de criadores de jogos, mas este episódio distingue-se pelo facto de Kojima atuar como sujeito e autoridade. Ele fala longamente sobre o que espera que os jogadores sintam quando se envolvem com o seu trabalho, salientando a importância de sentir a intenção por detrás das decisões de design. Relaciona este facto com o incentivo à experimentação, argumentando que os jogos devem convidar à curiosidade em vez de ditar o comportamento.

Kojima também fala sobre a forma como se prepara intelectualmente. Diz que não confia em especialistas dedicados para obter pormenores científicos ou históricos. Em vez disso, estuda constantemente através de livros, documentários, programas noticiosos, pesquisa online e visitas a bibliotecas. A rotina, explica ele, permite-lhe construir mundos que parecem coesos sem terceirizar a compreensão. A certa altura, brinca com a carga de trabalho e o recrutamento.

Se estão a ver e pensam: "Vou ser o braço direito do Kojima!", contactem-me", disse.

Uma parte significativa da entrevista de Hideo Kojima à Wired centra-se nos seus métodos de teste práticos. Ele descreve como joga pessoalmente os seus jogos enquanto ajusta a dificuldade, o ritmo e o equilíbrio do áudio. Testa o som através de auscultadores e altifalantes para garantir a consistência entre as configurações e revisita as passagens da história para corrigir problemas de ritmo.

"É uma fase muito importante", disse. "Penso que não são muitos os que fazem isto." - Hideo Kojima

O episódio também aborda o interesse de longa data de Kojima pelo cinema e a forma como a linguagem cinematográfica continua a moldar as suas decisões de design. Kojima concebe os jogos como espaços destinados a prender a atenção ao longo do tempo, dando ênfase à atmosfera e à continuidade em vez de uma escalada constante. O seu objetivo declarado é criar mundos que convidem os jogadores a permanecer dentro deles, e não a apressar os objectivos.

Para além da Wired, Kojima apareceu recentemente no Netflix Japan a entrevistar os irmãos Duffer no que parece ser o estúdio da Kojima Productions. A conversa muda o foco do desenvolvimento de jogos para a influência dos media. Os criadores de Stranger Things descrevem a forma como os jogos japoneses moldaram a sua abordagem visual e tonal, em particular quando conceberam a dimensão paralela da série.

"Tudo isto foi discutido na sala", afirmam. "Foi filtrado através da lente de como nos lembrávamos de os ter visto e jogado pela primeira vez quando éramos jovens e filtrado através da nossa experiência, mas faziam igualmente parte de Stranger Things." - Matt e Ross Duffer

Eles citam especificamente Resident Evil e Silent Hill como influências no visual e no clima do Upside Down. Metal Gear Solid também é mencionado durante a entrevista, uma referência que naturalmente tem um peso acrescido dada a presença de Kojima. A troca de ideias realça a forma como o trabalho de Kojima continua a repercutir-se para além dos jogos, moldando a narrativa visual noutros meios.

Leia também, Kojima olha para além dos géneros enquanto defende a identidade de Death Stranding, onde explica a sua recusa em refinar géneros existentes e o seu foco na criação de formas que ainda não existem.