Artista de GTA 6 diz que a IA não vai substituir as pessoas tão cedo

A IA continua a ser um tema quente no mundo da tecnologia, e o desenvolvimento de jogos está mesmo no meio disso. Enquanto alguns acreditam que um futuro repleto de mundos construídos com IA está mesmo ao virar da esquina, um programador veterano da Rockstar Games não está a acreditar no que se diz.

David O'Reilly, um antigo artista ambiental que trabalhou em GTA 5, Red Dead Redemption 2 e GTA 6, diz que a IA não está pronta para assumir os trabalhos criativos - e provavelmente nunca estará. David partilhou a sua opinião numa entrevista ao Kiwi Talkz, onde falou sobre o seu tempo na Rockstar e a atual direção da indústria.

David deixou a Rockstar em 2023 devido a esgotamento, mas o tempo que passou em títulos de mundo aberto de elevado orçamento deu-lhe uma visão próxima do que se passa em projectos gigantescos como o GTA 6. Durante a entrevista, foi-lhe perguntado sobre a previsão do antigo diretor técnico da Rockstar, Obbe Vermeij, de que o GTA 7 seria mais barato de fazer porque a IA iria assumir grandes partes do desenvolvimento.

Vermeij disse que a IA poderia substituir "bancos de artistas que estão apenas a construir mapas ou cenas enormes" nos próximos cinco anos. Vermeij considera que o elevado custo de GTA 6 é um ponto de viragem e que os futuros títulos da Rockstar poderão automatizar grande parte do processo de construção do mundo.

O'Reilly discorda.

"Penso que a vantagem da IA vai ser a automatização das tarefas aborrecidas".

Segundo ele, a IA pode acelerar os trabalhos aborrecidos, mas não vai lidar com arte complexa a um nível elevado.

"Não creio que estejamos perto de permitir que a IA faça um bom terreno. Pode fazer uma primeira passagem de algo, mas não vai chegar ao nível de qualidade do jogador sem tanta ajuda que mais vale fazeres tu mesmo."

Ele explicou que a IA pode ajudar em tarefas como a colocação de vegetação ou a união de terrenos, mas essas coisas já tinham sistemas implementados no RDR2. Nesse jogo, a equipa já estava a deixar de esculpir os ambientes à mão e a optar por métodos processuais, e não pela geração total de IA.

"A IA pode ter a sua utilidade, mas tem de ser para automatizar as tarefas aborrecidas que demoram muito tempo mas que não são realmente trabalhos especializados."

Quando se trata de criar ambientes credíveis e imersivos, David diz que as ferramentas de IA simplesmente não têm essa capacidade. Mesmo as ferramentas mais chamativas, como o ChatGPT ou modelos semelhantes, parecem poderosas à primeira vista, mas não resistem a uma inspeção minuciosa.

"Muitas delas são uma porcaria".

Esta perspetiva surge numa altura em que a IA está a causar uma preocupação real entre os programadores. A Microsoft despediu recentemente centenas de trabalhadores enquanto aumentava o investimento em IA. E nos estúdios, fala-se em automatizar partes do desenvolvimento para cortar custos.

Mas há vozes que se opõem. Em fevereiro, o CEO da Take-Two, Strauss Zelnick, também disse que não acredita que a IA vá reduzir o emprego. Ele acredita que ferramentas como esta são apenas mais uma evolução do pipeline digital e que podem tornar as equipas mais produtivas sem diminuir o número de funcionários.

"O que interessa é que se trata de ferramentas digitais e nós utilizamos ferramentas digitais desde sempre. Não tenho dúvidas de que o que hoje é considerado IA ajudará a tornar a nossa empresa mais eficiente e a fazer um trabalho melhor, mas não reduzirá o emprego."

Entretanto, o entusiasmo por GTA 6 continua a crescer. Uma fuga de informação afirmou recentemente que o jogo irá correr a 60fps e que está planeado um "modo de música personalizado" após o lançamento. A Rockstar ainda não confirmou nenhuma das afirmações.

À medida que a espera pelo GTA 6 continua, é evidente que as pessoas que ajudaram a construí-lo continuam a ver o talento humano como o principal ingrediente, independentemente do grau de avanço das ferramentas. Por enquanto, a IA pode ajudar no trabalho, mas não vai desenhar Los Santos tão cedo.